É sempre necessário questionar criticamente nossas suposições e as informações que falam sobre nosso comportamento social. Diante disso, lançarei um olhar sobre as manifestações sociais atuais a respeito de como a pandemia vem redefinindo nossos padrões e relações sociais. Também vou examinar esses padrões das perspectivas da psicologia de massa, da intoxicação mental e de uma solidariedade reprogramada. De acordo com o Prof. Mattias Desmet, as quatro condições que permitem o surgimento da formação da massa – popularmente conhecida como psicologia de massa – são: a falta de vínculos sociais; pessoas que experimentam a vida como algo sem significado ou sem sentido; ansiedade flutuante; e frustração e agressão flutuantes. Nos últimos anos, desde décadas atrás, essas condições foram se acumulando em nossas sociedades modernas. Como mencionei em um ensaio anterior, a ansiedade social e o sofrimento psicológico já estavam crescendo exponencialmente, mesmo antes da pandemia de 2020. As bases para estabelecer uma psicologia de massa já existiam em muitas, senão na maioria, de nossas sociedades e culturas industrializadas, antes mesmo dessa experiência traumática da pandemia atual. Em tais conjunturas de vulnerabilidade psicológica, uma mudança de apego – isto é, uma transferência de identificação – é alcançada rapidamente. O que provavelmente ocorreu nos últimos 18 meses foi um processo, em larga escala, de solidariedade reprogramada.

O Prof. Mattias Desmet acredita que o mundo experimentou um enorme ritual global que estabeleceu uma nova forma (uma forma recalibrada) de vínculo social. Desmet também afirma que essa psicologia de massa recém-chegada é uma forma de compensação por muitos anos de individualismo extremo, e agora as pessoas sentiram que precisavam buscar novos e diferentes laços coletivos de solidariedade. Esta nova solidariedade liberta as pessoas de seu isolacionismo e atomização anteriores. É um método programado e gerenciado de reunião social. E isso está sendo implementado em uma escala mundial. E mais, isso está sendo criado por meio de um tipo de ritual. Os rituais não são apenas para circunstâncias religiosas ou sagradas. Por definição, um ritual é uma sequência de atividades envolvendo gestos, palavras, ações ou objetos, desempenhados de acordo com uma sequência definida. Ou seja, eles são uma gama de ações realizadas de acordo com uma ordem prescrita. E essa ‘ordem prescrita’ pode vir por acordo ou imposição – ou uma mistura de ambos. A participação em rituais também desenvolve um grau de lealdade ao grupo/coletivo por meio da adesão e realização de ações que sustentam as narrativas principais. Essas ações de obediência (conjuntos de comportamento) podem ser consideradas rituais semelhantes a como os rituais religiosos são realizados para demonstrar lealdade a uma fé religiosa específica. Quando as ações sociais são realizadas por meio de um apego emocional ao ritual, é estabelecida uma forma de “lealdade hipnótica” com a qual é extremamente difícil romper. Isso pode levar a uma forma de ética inadequada, que pode fazer com que as pessoas se envolvam em ações de autossacrifício para defender o que foram levadas a acreditar ser uma posição ética. Pessoas pegas pela hipnose em massa são levadas a acreditar que as narrativas convencionais estão corretas e que elas estão certas em segui-las e apoiá-las – mesmo quando as evidências apontam para o contrário. Em outras palavras, essas pessoas acreditam fortemente na retidão moral de sua posição, e isso lhes dá um senso mais poderoso de solidariedade e justificativa. Da mesma forma, durante as Cruzadas, cada lado sentiu que estava fazendo a ‘obra de Deus’, engajando-se em massacres em massa. O que vemos aqui é uma condição de ética deslocada.

Pessoas levadas por uma psicologia de massa/multidão tendem a protegê-la e mantê-la consciente ou inconscientemente. É por isso que é mais provável que rejeitem qualquer informação contrária que lhes é apresentada; ou rejeitarão até mesmo a chance de tais informações serem apresentadas. Isso equivale a um estado moderado de hipnose induzida, que passou de uma identificação externa para um estado de automanutenção. Ou seja, as pessoas se envolvem no processo de sua própria hipnose induzida. Isso pode parecer implausível para algumas pessoas, mas precisamos observar quais condições existiam para permitir esses estados de hipnose. Uma das razões disso é que muitas das pessoas que caíram na formação dessa psicologia de massa já estavam experimentando descontentamento psicológico. Isso pode vir da percepção de uma falta de propósito e significado para a vida; não gostar de seus empregos; inquietação geral e ansiedade; e questões semelhantes, relacionadas com seu estado de vida anterior. Nesses casos, a maneira de quebrar a hipnose não é tentar persuadir essas pessoas a retornar aos seus “velhos hábitos”, com os quais elas não eram felizes, mas procurando maneiras de aliviar a fonte do descontentamento psicológico. E isso sugere uma transformação radical em nossos sistemas sociais e culturais e modos de vida. Além disso, aponta para uma mudança do crescente materialismo, automação e dependência tecnológica para um caminho que celebre mais a beleza e o significado do ser humano.

 

Hipnose em Massa da Solidariedade

Pessoas suscetíveis à psicologia de massa são menos propensas a responder ou ser sensíveis a argumentos e debates racionais. Isso acontece porque eles já não se alinharam com a narrativa principal por meio do raciocínio, mas sim por meio de um tipo de ‘intoxicação mental’ que desencadeou uma transferência de vínculo social para a solidariedade de massa recém-estabelecida. Esses gatilhos geralmente são mais eficazes quando apresentados por meio de estados emocionais – frequentemente baseados no medo; (in)seguranças; e morte. Quando esses gatilhos de medo são intensificados e expandidos por meio de ampla cobertura da mídia, a maioria (senão todas) das narrativas ditas alternativas são desacreditadas, descartadas e ignoradas. Uma vez dentro de tais estados emocionais intensificados, as decisões cognitivas são anuladas por circunstâncias interpessoais. Mais importante, a narrativa apoiada pelo estado (o novo consenso) dá às pessoas um objeto com o qual conectar sua ansiedade. Eles têm uma representação mental de qual é a causa de sua ansiedade. Sua condição anterior de ansiedade oscilante, agora se tornou ancorada e as pessoas sentem que são, então, mais capazes de controlar suas frustrações. Se a pessoa em hipnose parar de crer na narrativa imposta, de maneira dominante, ela teria que confrontar seu mal-estar inicial e descontentamento psicológico. Por essa razão, é difícil quebrar ou interromper essas formações psicológicas coletivas, uma vez que tenham sido estabelecidas. Uma vez que o padrão psicológico e a identificação emocional tenham sido construídos, é difícil desconstruir – uma solidariedade coletiva significativa foi estabelecida e toma conta da mente das massas.

Outro fator que fortalece a psicologia de massa é que as narrativas midiáticas impostas parecem falar em uma voz coletiva. Elas são mais claras em o que representam e parecem vir de um acordo unificado (ou seja, todos os atores do Estado e seus filiados demonstram que concordam publicamente). É importante que não haja um desacordo público sobre as narrativas. Essa sensação de clareza externa fortalece ainda mais essa questão como sendo um ato ritualístico – uma formação hipnótica. As outras vozes, que falam contra as narrativas dominantes impostas, não são consideradas, ou vistas como coerentes, porque se apresentam em pessoas variadas, soltas. Isso geralmente ocorre porque elas vêm de diferentes fontes, fontes essas que têm liberdade (não fazem parte de acordos) para apresentar os fatos de maneiras diferentes. No entanto, essa aparente falta de coerência narrativa enfraquece o confronto com o coletivo hipnótico. Aquelas pessoas que permanecem incertas e ainda não estão totalmente decididas, são mais propensas a escolher a ‘narrativa da multidão’ porque o enredo de massa parece falsamente mais sólido. As pessoas pegas pela programação em massa acreditam que estão expressando suas próprias opiniões, quando, na verdade, houve um truque inteligente para que elas recebam ‘pacotes de opinião’ pré-formados que podem usar como seus próprios. Essas pessoas, portanto, não estão expressando opiniões pessoais, obtidas por meio de questionamentos críticos individuais, mas, sim, “pacotes de pensamentos” condicionados, fornecidos por meio de técnicas de programação implementadas no psicológico coletivo. A hipnose em massa da solidariedade vem com uma coleção pré-preparada de opiniões para dispersão em massa. Por mais arraigada que essa situação pareça, sempre há a possibilidade de neutralizar a hipnose coletiva.

 

Recuperando Nossa Unidade

É importante que aquelas pessoas que veem, percebem e entendem as contradições e falsidades nas narrativas de massa continuem a falar. A hipnose pode ser diminuída ou enfraquecida por meio da exposição contínua a informações racionais, mesmo quando essas informações se opõem às narrativas da psicologia de massa.

O primeiro passo para combater a psicose de massa é desconectar a ansiedade das pessoas do “objeto” para o qual as pessoas foram persuadidas a transferir sua identificação. Isso pode ser compreensivelmente difícil quando a grande mídia não está à sua disposição, pelo contrário, está trabalhando para manter a impressão hipnótica das narrativas de massa. Uma maneira que funciona para fazer essa desconexão é apresentar um cenário – uma ‘ameaça’ – que pode ser maior do que a usada na impressão coletiva original. Por exemplo, se as pessoas percebessem que a atual ‘crise de saúde’ poderia levar a uma condição de totalitarismo.

Os problemas reais, e aquele que cria o terreno fértil para induzir uma psicologia de massa, são a falta de vínculos sociais e uma percepção da falta de significado. Essa percepção da falta de significado e propósito de vida é o que produz a sensação de ansiedade “oscilante”. O perigo aqui é que uma população sob o domínio da psicologia de massa – hipnose induzida em massa – tem mais probabilidade de apoiar ou seguir o regime totalitário que mantém essa hipnose de massa. Esta foi uma das razões pelas quais o nacional-socialismo alemão (o regime nazista) teve tanto sucesso em seus objetivos.

As pessoas que eram menos suscetíveis à hipnose de massa, tendiam a ser aquelas que discordavam da ideologia por trás dela ou tinham mais experiência no uso da análise crítica dos fenômenos sociais e/ou eram mais conscientes dos processos de condicionamento social e dos usos de propaganda convencional. Eles eram muito mais capazes de detectar, desde o início, como as narrativas da psicologia de massa tratavam as pessoas como meras unidades biológicas a serem movidas no tabuleiro. A pergunta que precisa ser feita agora é: como essas pessoas que se saem fora da hipnose de massa podem se unificar? Aquelas que podem falar contra a hipnose de massa precisam se conectar. A vantagem é que elas são unificadas por meio de um entendimento, mesmo sendo diferentes em suas origens, estruturas de crenças, identidades etc. Essas pessoas podem encontrar coesão nas perspectivas, embora continuem sendo indivíduos diferentes e independentes. Essa diversidade e independência individual trazem mais força do que uma massa coletiva que se uniu através da programação de uma falsa solidariedade.

É importante que essas pessoas com cognição perceptiva reconheçam que um ritual global foi colocado em movimento e que tem como objetivo o ‘retreinamento’ da população para dar-lhes as boas-vindas a um novo modelo civilizacional. A vontade de concordar em adotar este novo modelo de ordem, em nível local, regional, nacional e global, separará a humanidade de suas próprias raízes biológicas e constitucionais. Para avançar como seres humanos, provavelmente precisaremos rejeitar certos futuros materialistas que nos são oferecidos. Essas ofertas virão com promessas de conforto e comodidade; ainda assim, eles esconderão o ponto fraco da desconexão humana e da perda do espírito humano. Se for feito um acordo com o diabo, podemos ter certeza de que nossas almas serão recolhidas sem demora. A grande verdade que dá força à humanidade é que a alma e o espírito humanos nunca podem ser tomados sem o nosso consentimento voluntário. Assim, ao negar-lhes nossa obediência voluntária, fortalecemos nossa unidade por padrão. A unidade estabelecida por meio da percepção consciente é sempre maior, energeticamente, do que a unidade percebida por meio da programação inconsciente. Se os poucos estão cientes do que está sendo tentado pela hipnose em massa, então isso nos dará, energeticamente, uma unidade mais forte. A maneira de quebrar a hipnose em massa é alinhar-se com uma verdade maior que, gradualmente, ressincronizará e recalibrará a vibração energética do coletivo.